domingo, 19 de setembro de 2010

Teatro versus Poesia

Doutor Faustus liga a luz - Teatro - Crítica

Acabei de sair do teatro, e vim correndo para casa, para escrever este texto. Tamanha a minha indignação com a má qualidade do que vi. Fui assistir a leitura dramática da peça Doutor Faustus liga a luz (texto de Gertrude Stein, tradução de Fábio Fonseca de Melo e revisão de Daniel Belquer), na Escola de Teatro e Dança FAFI, e saí de lá decepcionado. O mais chato é que trata-se de um trabalho desenvolvido numa escola de teatro (que pretende ser reconhecida como tal) a partir de uma oficina ministrada por um profissional de renome (Daniel Belquer), artífice de vários labores (diretor teatral, performer, diretor musical, designer sonoro, sonoplasta, músico compositor e arranjador, multiinstrumentista e videomaker). A atuação dos atores e atrizes em geral é muito ruim, embora se perceba que quase todos têm um bom potencial, que foi mal explorado pela direção de Charlaine Rodrigues. Dois atores, que não identifiquei, lêem muito mal. Uma vergonha! Na verdade, o problema maior está na direção. É estranho e desnecessário que os atores e atrizes falem quase todo o tempo num ritmo acelerado, que prejudica a audição das palavras, dos versos (falas) e mata a beleza poética do texto. Em se tratando de poesia, seria necessário que as palavras fossem bem escandidas, articuladas, pronunciadas, enfatizando o ritmo e mesmo as rimas, e tornando mais claro os sentidos, as ideias, através do tom adequado a cada momento. O diálogo entre poesia e teatro foi para a cucuia. A intenção de valorizar a palavra em cena não passou de pretensão. O que vi foi, mais uma vez, o teatro assassinando a poesia, como vem ocorrendo há séculos. A utilização de lanternas e velas poderia ter rendido ótimos efeitos cênicos, se tivesse havido mais cuidado, pesquisa e experimentação. Mas parece que a solução foi arranjada às pressas. Enfim, a iluminação (de Edgard Barbosa) também foi um desastre.
Isto é o que penso. Se alguém discorda dos meus pontos de vista, façamos deste espaço nossa arena, nosso fórum, nossa ágora. E venha discutir comigo.

Waldo Motta
Tels.: (27) 8841 7348

DAS MUTAÇÕES 

Se és mesmo sincero, hás de mover
o Céu, a Terra e as potestades.
Se os mapas não indicam tua rota
nestas águas, apela à estrela íntima.
Dissipa em teu peito e na fronte
o desejo de amar que te oprime.
Em solo do desdém nunca semeies
este sêmen, mas aguarda o teu tempo.
O tigre espere a presa que não sabe
ainda consagrar-se à nobre fome.
A sede acabará achando a fonte
e hás de partilhar os teus prodígios.
Tão mais humilde seja o teu barco
mais longe irás, e até contra a maré.